Review: "Apneia", de Tânia Ganho

27/04/2021

Sem respirar...
É realmente em apneia que ficamos ao ler este livro. Pelo ritmo, mas, mais ainda, pela sucessão de socos no estômago que nos sufocam...



Editora: Casa das Letras (Leya)

Autor: Tânia Ganho

Edição: 2

Número de páginas: 696




Sobre o autor

Após ter estudado e lecionado tradução na Universidade de Coimbra, Tânia Ganho colaborou com a SIC e legendou muitos dos filmes que nos chegaram ao ecrã. Hoje, dedica-se totalmente à literatura, quer como autora, quer como tradutora.



O livro

Olá a todos!! :)

Demorei a trazer esta opinião...

Terminei a leitura há cerca de um mês, mas a verdade é que o livro chegou com defeito e tive de o mandar para trás e depois ele nunca mais voltava e assim não conseguia tirar fotografias para vocês o verem.

Bem... Para ser honesto, essa é uma das razões. A outra é o facto de precisar de assentar o livro. Não há mesmo outra palavra. É que foi tanta coisa, tanto peso, tanta dureza e dor... Que eu precisava de parar e processar. Mas parece que nem hoje me sinto preparado para isso. Tudo o que posso fazer é prometer dar o meu melhor.


O livro faz-nos entrar no mar sem fundo em que Adriana se afogou após a separação do marido italiano com quem partilhava um filho. Um marido que parece fazer de tudo para a destruir, um marido que é intrinsecamente mau e coloca o filho em perigo levianamente, ao mesmo tempo que simula toda uma imagem de vítima em frente ao mundo, pronto para levar a sua vingança mais longe.

Mas, a dada altura, os comportamentos tornam-se inconsistentes... Será mesmo uma questão de vingança..?

O título do livro faz sentido desde as primeiras páginas. Sim, o livro tem quase 700 páginas, mas facilmente se leem mais de 200 numa tarde, com todos os capítulos curtos e bem definidos (em média, 3 páginas por cada um, e com uma letra simpática). Acima de tudo, o que nos prende é o conteúdo, o afogar no cinzento em que Adriana se vê presa... E nós com ela.

Realmente, é exasperante assistir a tudo o que acontece. O que inicialmente parece apenas ridículo e maldoso, torna-se numa sucessão de atos frios, de ataques violentos no silêncio. Sim, o silêncio engole-nos como vítimas. Queremos mexer, gritar, esbracejar por ajuda, para que salvem o nosso filho daquela prisão psicológica... Mas ninguém nos vê, ninguém nos ouve. A todo o momento, há prazos atrás de prazos, burocracias, incompetências e ausências de empatia brutais que impedem a verdade de ser contada.

Mas Adriana nunca desiste, ela tem de salvar o filho, ela é a única que se preocupa... Mas o facto de continuar despe-a de vida. Tenta sobreviver, voltar a respirar a cada novo golpe que a faz engolir água, só que há sempre uma nova onda, um novo impacto que lhe impede uma arfada completa à tona... Não há paz, não há justiça, só desespero... E assim Adriana mergulha num mundo de cansaço, de ansiedade, de pânico. De vazio. De depressão.

O desenvolvimento psicológico é, sem dúvida, o ponto alto desta história. A forma como o medo nos molda e deforma, a dependência ao agressor, o impacto dos choques, o mergulhar na depressão... Tudo se conjuga numa leitura compulsiva, capítulo sôfrego atrás de capítulo sôfrego. E num realismo que nos deixa chocados. Todos os efeitos psicológicos cumulativos acontecem uns atrás dos outros, nada como se "preveria" num livro leve. Só acontecem, surpreendem-nos, fazem-nos adentrar em lados negros, em lugares cinzentos e em ações desesperantes.

Sim, este livro não nos apresenta cenas visuais e, no início, até a cronologia quase se mistura, sem uma definição clara. E, se eu sempre pensei que isso pudesse ser um problema para mim, a verdade é que neste livro em concreto, foi a melhor abordagem. Somos guiados pelas palavras e pelas sensações e pensamentos. Afinal, é sobre essa espiral que o livro nos fala.

Outra coisa que correu bem e eu também receava que pudesse não correr foi o facto de existir um prolongar dos vários estados de espírito, fazendo com que a história propriamente dita avançasse bastante devagar. Existem algumas partes em que eu cortaria uma ou outra repetição. No entanto, fora isso, deixaria tal e qual. Todos os meandros e subtilezas obscuras têm de estar ali para nos contar esta história. Porque, ao final do dia, a história é sobre o percurso psicológico das personagens, sobre uma mãe que luta ao mesmo tempo que perde a sua inocência pura, sobre um filho que endeusa o pai agressor para acabar a sair permanentemente ferido por ele.

Sinto que acabei por sair dos tópicos habituais das opiniões, mas, fazendo um resumo dos pontos mais "objetivos" antes de terminar a opinião: as personagens são muito bem construídas e evoluem passo a passo à nossa frente numa maestria impecável, apesar de nem sempre nos cativarem; a escrita é muito muito boa e madura, consegue ser certeira apesar de gostar de explorar alguns "floreados" que caem perfeitamente no momento da história em que aparecem; retiraria algumas partes para tornar o livro mais curto e o final foi demasiado "simples" e preguiçoso para a história que foi (daí não chegar às 4,5*), mas aconselho o livro, sem dúvida nenhuma.

Levem é algum estofo.... Porque é uma leitura muito dura. E vão precisar de pausas para processar tanta crueldade.

Boas leituras!! ;)


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