À Conversa com... Nuno Nepomuceno

21/10/2017


Entrevista


Olá a todos!! :)

Como já vos tinha dito, publico hoje no blog uma entrevista com Nuno Nepomuceno, o autor de "A Célula Adormecida" (já resenhado e um dos prémios da Maratona Quiz do segundo aniversário do blog). Além disso, e depois de ter começado com a trilogia "Freelancer", o autor, top nacional, prepara-se para nos apresentar um novo projeto... Leiam a nossa conversa para saberem tudo!!

Antes de mais, tenho de lhe agradecer pela enorme disponibilidade que demonstrou (e pela compreensão face aos problemas técnicos que surgiram durante a entrevista!). Obrigado, Nuno!!

Vamos lá às perguntas?? :)




1. Eu gostaria de começar com a "pergunta da praxe", ou seja, existe algum livro ou autor que considere especialmente inspirador, ou que o tenha ajudado na escrita?

O meu preferido é "Os Três Mosqueteiros", de Alexandre Dumas (eu tenho um estilo bastante diferente dele). Mas há alguns autores que são, obviamente, uma referência para mim e que, de alguma forma, acabaram por despertar em mim um maior desejo de escrever. É o caso de Daniel Silva (muitas pessoas fazem essa comparação, atualmente). Não escondo que gosto de ler os livros de Daniel Silva, mas também acho que tenho uma voz própria. E, depois, acho que acabamos sempre por ser influenciados por diversos autores e por tudo aquilo que se passa à nossa volta, ao que assistimos e ouvimos; é impossível ser completamente original. Há umas referências em Portugal, sobretudo pelas carreiras que têm desenvolvido e pela forma como têm gerido essas mesmas carreiras: é o caso de José Rodrigues dos Santos, do próprio Luís Miguel Rocha (que, infelizmente, já faleceu). São todos bons exemplos a seguir e exemplos que devem ser respeitados, quer se goste ou não do seu estilo.

2. Pegando então em inícios, passaria ao "Espião Português", o seu primeiro livro publicado. Porquê a espionagem para começar uma carreira como autor?

Era o género em que me sentia mais confortável por duas questões: em primeiro lugar, sempre gostei de ler e ver filmes e séries sobre espionagem (não tenho qualquer formação na área, mas quando comecei a escrever o primeiro livro, era aí que me sentia capaz de fazer um melhor trabalho); por outro lado, achei que, em termos de mercado, seria uma escolha ousada e até inteligente. Um autor a escrever sobre espionagem em Portugal seria algo diferente do panorama atual, e acho que tenho conquistado algum público por isso mesmo. Os autores de policiais são poucos, de espionagem e ação (como é o "Espião Português") não consigo citar um nome. Foi uma estratégia, ainda que entretanto tenha evoluído na carreira, não abordando exclusivamente a espionagem (e a ação), mas são referências que vêm comigo e que acabam por moldar aquilo que sou enquanto escritor.

3. Quanto ao seu último livro, "A Célula Adormecida", como surgiu a ideia? Foi algum momento específico da sua vida,...?

Não precisamente. Foi uma ideia que foi sendo amadurecida com a editora com a qual trabalhava na altura. Quando entreguei "A Hora Solene", tivemos uma pequena reunião na qual discutimos qual seria o próximo livro. Colocámos algumas opções em cima da mesa, e a ideia dada pelo editor foi um thriller sobre tensões sociais. Isto foi em setembro de 2015, altura em que começaram a surgir imensas notícias sobre o êxodo de refugiados e a tragédia que ocorria nos mares da Grécia e Itália. E estes acontecimentos traziam diversas tensões sociais. O livro não versa muito sobre o tema, mas aborda a xenofobia, o racismo, o crescimento dos partidos de extrema direita. Mas, ao desenvolver o livro, este tornou-se muito mais virado para o terrorismo do que para as tensões sociais.

4. Permanecendo na "Célula", e visto que, durante a leitura do livro, reparei (e seria impossível não o fazer) que revelou profundos conhecimentos sobre a cultura islâmica, as células terroristas, os refugiados, etc. Como se desenvolveu este período de pesquisa?

Existiram duas pessoas que me ajudaram na pesquisa. Quanto à cultura islâmica, dirige-me à Mesquita Central de Lisboa, travando conhecimento com o sheik David Munir, um dos mais conhecidos imãs do local. Falei com o sheik, estive presente em alguns dos dias de congregação, às sextas feiras. Também me familiarizei muito com o espaço e fui tendo algum contacto com a cultura. Paralelamente, fiz uma pesquisa com base em livros, artigos de imprensa, sobre certos aspetos da religião em si, li excertos do Corão. Portanto, foi todo um processo, bastante longo, que começou em novembro e que foi sendo complementado ao longo do processo de escrita do livro. Mesmo quanto ao período de revisão, o sheik Munir foi extraordinário nesse auxílio. A nível das células terroristas, tive a ajuda de um conhecido que trabalha nos Serviços Secretos portugueses (e que não estou autorizado a identificar). Também para o livro que virá em janeiro efetuei uma pesquisa semelhante relativamente a outro espaço que não posso ainda revelar porque... é surpresa.

5. O que considera ser autor em Portugal? Talvez algo mais inglório do que em outros países?

Considero que ser autor em Portugal é exatamente o mesmo que em qualquer outro país pequeno. As pessoas comparam muito com o Reino Unido ou com os EUA, onde um livro que vende pouco é um bestseller em Portugal, em termos de comparação numéricos. Mas nós não devemos fazer essa comparação: são mercados com fundamentos completamente diferentes, começando logo pelo número de leitores e pelas suas condições económicas. As pessoas têm reservas em investir num livro, porque o utilizam durante um determinado número de semanas e depois este fica arrumado na estante. É claro que aqui enfrentamos dificuldades, mas isso também acontece, por exemplo, com um autor na Hungria, Itália, Grécia, etc. E se formos para países africanos, eles estão muito pior do que nós, daí que autores angolanos e moçambicanos se socorram do mercado português para singrarem. Se compararmos com os mercados americano, inglês e espanhol, ficaremos sempre a perder. É difícil ser autor em Portugal, mas não é impossível. E temos autores portugueses que vendem tanto ou mais do que autores estrangeiros. Alguns deles competem diretamente com Dan Brown no top nacional. Portanto, sim, é difícil, mas não impossível.

6. Sempre ouvimos dizer que um bom escritor tem de ser, antes de mais, um bom leitor. Tem alguma espécie de disciplina, "regras" para ler e escrever?

O meu processo de escrita tem-se alterado bastante ao longo dos últimos anos. Os primeiros dois livros foram escritos sob a forma de fragmentos. A partir de "A Hora Solene", tentei reservar uma parte do meu ano (no caso d' "A Célula Adormecida", foram quatro meses) para me dedicar mais à escrita (não exclusivamente, já que tenho outra carreira), mas tento canalizar todo o meu tempo livre para a escrita. Nesse tempo, tento ter, pelo menos, duas a três horas disponíveis. Não sou capaz de pegar num computador e iniciar um capítulo sem antes preparar algumas ideias, esquematizar. De resto, vou tentando condensar o processo e reservar uns meses para isso. Se tiver o dia livre, tentarei escrever de manhã e à tarde. Não costumo escrever à noite. Para mim, tem-se tornado cada vez mais importante ter ritmo de escrita; é muito bom e ajuda-nos a progredir no livro. É mais fácil entrar no mundo e nas personagens com uma redação continuada.

Como leitor, não tenho regras. Já li mais do que leio atualmente. Pelo facto de ter duas carreiras em paralelo, é difícil ler tanto quanto gostaria. Chego cansado ao fim do dia, e já com a vista cansada. De qualquer das formas, neste momento, não estou a escrever, o que significa que ando a ler. :) E assim irei continuar nos próximos meses, ao mesmo tempo que preparamos o lançamento do meu novo livro, que poderá ocorrer em janeiro ou em março.

7. Durante/no final da escrita do livro, costuma pedir conselhos a pessoas conhecidas, a alguém especializado até?

Não. Não... Eu tomo todas as decisões sobre o livro, não revelo o seu conteúdo a ninguém. Cheguei a mostrar "A Espia do Oriente" a um familiar, mas atualmente já nem isso faço. O livro sai da minha mão diretamente para o editor. Depois, o livro acaba por sofrer alterações com o processo de edição, no qual se encontra o meu novo livro neste momento. Este será sujeito a algumas alterações (espero que não sejam muitas!). 


8. Dos livros que escreveu, se tivesse de escolher um como seu "predileto", qual seria?

Todos eles são para mim especiais, de uma forma ou de outra. "O Espião Português" foi o primeiro e é ainda aquele pelo qual sou mais conhecido. "A Espia do Oriente", infelizmente, é o meu livro menos vendido, mas diria que é o que mais gosto. É o mais grosso da trilogia, o mais denso, o mais negro. "A Hora Solene", porque foi o fim de um projeto de doze anos, e por ser o mais equilibrado dos três. "A Célula Adormecida" trouxe-me algum reconhecimento, mas o meu preferido será o livro novo. Estou muito, muito satisfeito com ele. É um thriller psicológico, que volta a ter uma grande componente religiosa e algumas relações a terrorismo e espionagem. Estou orgulhoso. As pessoas vão ver um Nuno ainda mais negro, no ponto ao qual sempre quis chegar e que vou apresentar. Acho que vão ficar surpreendidas com o conteúdo do livro.

9. A última questão é mesmo sobre o seu trabalho. De certa forma já foi respondida, mas, se quiser adiantar mais algum detalhe...

Não posso falar muito sobre ele, por questões de marketing, visto que ainda é muito cedo. O objetivo é que chegue a tempo das campanhas do dia do pai. O mais provável, e se não houver imprevistos, é o livro sair em janeiro. Bem... O que posso dizer sobre o livro para além do que já disse há pouco? Há uma novidade. O protagonista do livro é novamente o protagonista d'"A Célula Adormecida", o professor Catalão regressa a este livro. É algo que ainda não contei a ninguém, é a primeira vez que o estou a dizer. Não é uma continuação, contrariamente àquilo que se possa pensar. Não estou a fazer uma nova trilogia. Aliás, nem sequer tomei a decisão acerca de voltar ou não ao Afonso um dia. É outro livro cujo protagonista transita do anterior.

Será um thriller psicológico muito denso, e com alguns temas bastante polémicos pelo meio.

Gostaram de conhecer o autor?? :) Já leram algo dele? Digam nos comentários!

Espero que tenham gostado. Obrigado por lerem! E obrigado, Nuno, pela disponibilidade, e pela novidade em primeira mão!

Boas leituras!! ;)


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