Review: "Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos", de Olga Tokarczuk

17/04/2020



Editora: Cavalo de Ferro (2020)

Autor: Olga Tokarczuk

Edição: 2

Número de páginas: 288




Sobre a autora

Sendo já conhecida como uma das autoras polacas mais bem-sucedidas da sua geração, Olga Tokarczuk é também frequentemente aclamada pela crítica literária internacional. Em 2018, foi agraciada com o grande título de "Nobel da Literatura".



O livro

Olá a todos!! :)

Esta foi mais uma leitura feita em Clube de Leitura (já há uns meses, porque ultimamente não nos reunimos presencialmente, como será de esperar). Nunca fui pessoa de procurar livros pelos prémios que os autores arrecadavam, pelo que receei fazer a leitura deste livro, o qual, apesar de ter um título e uma história algo prometedoras, não deixa de ser um "Nobel" e portanto algo fora do meu radar literário.

Mas percebi que me enganei. Nem todos os nobéis são Saramago, e nem todos os livros destes autores servem apenas para atiçar críticas e afirmar opiniões. Há livros destes autores que, apesar de procurarem difundir mensagens, valorizam as histórias e as constroem com alguma naturalidade.

E é assim que nos surge a história de uma simples aldeia polaca que se vê a braços com um crime chocante: o assassinato brutal de vários membros do clube de caça local, que vão sucedendo de forma gradual. A nossa protagonista, uma excêntrica professora reformada que gosta de observar os sinais dos astros, não se deixa ficar indiferente, apesar de gostar mais de animais do que de pessoas...

Devo dizer que, apesar de o livro decorrer na atualidade, eu nunca o imaginei como tal. Sempre associei a ação a um cenário diferente, em tons de madeira e couro. Só mais tarde, ao pesquisar um pouco pela autora, é que percebi não ser o único; ao que parece, Olga é muito conhecida pela sua escrita mítica, que nos faz associar as suas palavras a este tipo de imagens. Por isso é que, quando surgem na história objetos demasiado modernos, eu tenho de abanar a cabeça para por as ideias em ordem após a confusão...

A base da história não é totalmente criativa. Quase todos já lemos (ou ouvimos falar de) histórias em que um reformado tenta investigar um crime; ou mesmo outras que descrevem um conjunto de homicídios em série, num tom noir como o deste livro. Contudo, não me recordo de ouvir falar de um conjunto de homicídios aparentemente cometidos por animais, numa espécie de vingança contra os humanos.

A protagonista narra na primeira pessoa e vai tecendo considerações e teorias sobre os aspetos mais básicos da vida, sempre na perspetiva de alguém que já viveu o tempo suficiente para pensar e justificar os pequenos detalhes que a compõem. Contudo, falta-lhe uma personalidade mais forte a princípio. Existe um ripostar inicial, mas nada que não possa ser justificado como simples teimosia da idade. Porém, com o avançar da história, vamos assistindo ao seu apoio aos animais e até ao finca-pé que faz nos ideais em que acredita. Aí sim, começamos a sentir uma personalidade própria e determinada.

A escrita não é, de longe, tão complexa como o que antecipava antes de pegar no livro. Pelo contrário, não obstante o tom mítico, Olga presenteia-nos com uma escrita simples e que flui bastante bem. Tudo num estilo muito próprio, que engloba dimensões como a racionalização dos sentimentos. A verdade é que, durante a história, não chegamos a sentir por força do sentimento, mas sim pela sugestão racional do mesmo.

Contudo, o ritmo da história não tem NADA que ver com o que se pode esperar de um policial que, pela sinopse, quase parece prometer roçar o thriller. De facto, a autora perde muito tempo com geografia do tempo em que a protagonista viveu antes, e ainda mais com astrologia. Mesmo que com significado para a história e até para o processo de construção da personagem, capítulos inteiros sobre o tema tornam-se verdadeiramente aborrecidos. Para além de que os momentos de suspense e algum terror não são, a meu ver, suficientemente desenvolvidos para nos sentirmos realizados ao ler a cena. Na verdade, esta história é também muito para aqueles que gostam de saborear algumas expressões novas ou formas particulares de apresentar as coisas.

Eu poderia continuar a falar sobre o livro, nomeadamente sobre a forma como a autora nos guia pela história e pelas ideias em vez de usar imagens e detalhes que nos posicionem na história... Mas o mais importante a frisar é que finalmente desconstruí a imagem estereotipada que tinha na minha cabeça sobre os livros de autores Nobel. Por isso e pela boa história (apesar de não incrível) que me apresentaste: Obrigado, Olga!

Boas leituras!! ;)


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