O livro

Olá a todos :)

Eu pouco leio de autores portugueses, e é algo que, volta e meia, vou tentando alterar, conhecendo uma ou outra novas escritas nacionais. E, desta vez, foi o Raul Minh'alma, que tem sido muito elogiado pelos leitores no geral. Não sou assim tanto de romances puros, mas... Decidi dar a oportunidade.

E não me arrependi. Bem, também não adorei. Mas foi uma leitura leve e que se fez bastante bem...

Tudo começa quando Teresa descobre que o pai está com inícios de uma depressão e a terapeuta dele lhe pede para a ajudar com o tratamento em casa, sendo a principal responsável a seguir ao pai pela sua recuperação. Esta é a altura em que a vida de Teresa acaba por mudar, para tratar do pai divorciado com quem vive. E ela dá tudo: pesquisa sobre o tema, faz cumprir dietas, vai a sessões e terapias com ele...

E, ao mesmo tempo, algo mais acontece. Ela não esperava de todo, nem tinha disponibilidade para isso, mas acaba a apaixonar-se por um rapaz cujo irmão estava internado na clínica. E, aos poucos e poucos, a sua vida vai dando umas quantas voltas e ela vai descobrindo quem realmente é e não se deu espaço para ser... 

Bem, escusado será dizer o ponto que mais me fez comichão ao ler esta história, certo? Basta olhar pela sinopse. Cliché. A história baseia-se numa premissa de paixão já esbatida, e depois é previsibilidade atrás de previsibilidade, encontro cliché atrás de encontro cliché até chegarmos ao final.

E o mesmo acontece com as personagens principais que estão por trás destes momentos. Como assim, são todas boas? Mas isso não é possível... Boas e basicamente sem falhas. Sem defeitos reais que fazem delas pessoas credíveis. O autor torna-as cativantes, sem dúvida, mas falta-lhes textura, realismo, e isso seria algo que sem dúvida mudaria no livro.

Porém, há aqui algo a frisar: o tema da saúde mental a ser tratado foi algo interessante e que tentou ser apresentado de um ponto de vista mais "simples" para que qualquer pessoa (qualquer pessoa mesmo) o pudesse entender e percecionar quase intuitivamente na leitura. E nesse aspeto, o autor fez um bom trabalho de simplificação.

A escrita deixou-me dividido... É uma escrita simples, sem dúvida, mas isso não tem mal nenhum. Muito pelo contrário: muitas vezes menos é mais, especialmente neste tipo de livro e público alvo mais generalista. Só que as "formulações" não me pareceram bem. A forma de as personagens pensarem e, acima de tudo, falarem não bate certo. Não são nada naturais. Quando é que na vida real dois jovens a falar usam expressões cheias de futuros e condicionais, quase como se fosse algo meio formal ou frases pré-feitas?

O que senti também foi que o livro quase era uma narrativa que escondia o verdadeiro livro de autoajuda. Existem alguns diálogos que nos fazem pensar, mas continuam a não "soar". O autor explica quase até o que devia ficar nas entrelinhas e atira-nos com várias frases que às vezes são mesmo frases feitas e já conhecidas. Contudo, algumas fazem-nos realmente pensar. Pelo menos a mim fizeram. E isso foi um ponto positivo!

Para além disso, Minh'alma vai construindo os seus lugares e significados na história, apesar de nem sempre com muita profundidade. É sempre algo que ajuda a construir uma história. E a verdade é que, a dada altura, quase se torna confortável movermo-nos neles. Ou até acreditar que toda aquela bondade e positivismo são algo que está à nossa disposição se agirmos dessa maneira. E a verdade é que está. Não de uma forma idealizada e sem problemas (também não foi isso de todo que o autor passou, ele esteve muito bem nisso), mas até através dos passos que damos e em particular dos que continuamos a dar depois de cairmos.

Contudo, e também por estes pontos menos realistas, esta é uma leitura super leve, que se faz super rapidamente, mesmo sem demasiado tempo para dedicar à leitura. Torna-se perfeita para curar uma ressaca literária, sem dúvida nenhuma. E ficamos com uma sensação de leveza muito agradável da primeira à última página! E, bem... o final até que me deixou surpreendido...

Boas leituras!! ;)

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