O livro

Olá a todos!! :)

Este é um livro que me chama imediatamente à atenção pela sua proposta totalmente inesperada. E se... cada mulher pudesse apenas dizer 100 palavras por dia? Verdadeiramente sem palavras, quando uma mulher utiliza, em média, 20 000 a cada 24 horas...

Imaginemos que o povo norte-americano vota num demagogo conservador para ser o homem mais poderoso do mundo... Um homem que despreza as mulheres e as quer absolutamente submissas e confinadas ao espaço doméstico. Um homem que detrói a diferença e que cala a voz feminina com umas pulseiras que descarregam um choque elétrico no pulso de cada mulher ou rapariga por cada palavra proferida a mais do que a centena permitida.

Rapidamente a Dra McClellan se viu presa num novo e ensombrado mundo, depois de ignorar os sinais e os incentivos à ação da sua amiga ativista Jackie. Mas a sua situação em particular (e a da sua filha de seis anos) pode ter uma reversão temporária... Será que a protagonista vai agarrá-la ou sacrificar-se-á por algo maior...?

Quando conferi a ideia-base desta história, fiquei absolutamente interessado. Mas o facto é que, por esse motivo, estava à espera de um desenvolvimento mais emocionante e profundo...

Um dos detalhes do mundo da história que me agradou foi a particularidade de tudo isto se passar nos EUA do presente. Todo o terror e repressão são feitos de detalhes e elementos da realidade americana, o que torna tudo ainda mais perturbador. Uma distopia com um estilo e ambiente particulares, sem dúvida, o que é um grande ponto a favor!

E o melhor de tudo é que a autora aproveita este facto para nos alertar para o que de mal estamos a fazer. Como isso até poderá vir a acontecer, tornando-se o nosso presente se nada fizermos para o impedir. Porque nos limitamos a assistir ao cenário político à nossa volta sem intervirmos em nada. Nem com palavras. Nem com um simples voto... Isso faz de cada um de nós culpados indefensáveis, cúmplices de um cenário atrasado e revoltante como este.

A escrita da autora é madura e com um ritmo vincado, objetiva e ensombrada, conforme pede o género literário. Os capítulos curtos impedem-nos terminantemente de largar o livro, em particular nas primeiras páginas, em que a passagem das memórias do nosso mundo para a realidade retorcida vivida pela protagonista é realizada de forma magistralmente gradual.

No entanto, conforme vos disse, o desenvolvimento da história não me convenceu. É como um verdadeiro diamante em bruto que lamentavelmente não é esculpido de forma a chegar ao expoente merecido. E o que mais me incomodou foi as personagens, que, à exceção de uma ou outra, são basicamente todas iguais, sensaboronas e deprimentes.

Para além disso, numa distopia feminista, seria de esperar que pequenos estereótipos machistas não surgissem naturalmente na mente da protagonista, tal como a ideia de que os homens são mais fortes e protetores. Ou então que não fosse um homem a resolver a situação, no final mal centrado (que foi demasiado corrido e, a meu ver, se deveria ter focado no derrube do governo e não simplesmente num golpe no laboratório onde a protagonista trabalhava).

Seja como for, "Vox" consegue fazer o leitor pensar sobre questões fundamentais, como a importância da linguagem, da liberdade e, acima de tudo, das mulheres. E da participação no futuro da nossa sociedade. E nada lhe tira este mérito, nem o do mundo distópico que merece a atenção de TODOS; especialmente dos apreciadores do género!

Tudo num livro que chega às livrarias pela mão da Topseller já no próximo dia 4 de fevereiro!! Preparem-se para as compras!! :)

Boas leituras!! ;)